Soneto de Carnaval Sem Rima


Tudo parecia um tédio,
máscara, fantasia, sorrisos secos
como uma ressaca de carnaval
mas entre a multidão inquieta.

entre rostos e corpos transfigurados
na minha cabeça confusa
percebi um olhar ofuscante
de confete e serpentina

que vagando entre as pessoas
acertou meu pobre olhar
corrôeu o meu instinto

me afogou em seu cabelo
me asfixiou em seu perfume
e me matou com seu desejo.
(João Diniz)
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Sobre efeito ou A revolta do que vê

De frente para o lago
os olhos pareciam mais vermelhos.
Mais vermelhos, que uma chuva de larva
esculpindo seus anzóis petrificados.
Pareciam mais tontos, que uma barata tonta
após aspirar o gás verde musgo exalado pelos inseticidas
Pareciam mais cruéis que tudo
Até mesmo que a Santa Inquisição
com suas fogueiras de fogo azulado,
prontas para apagar do mapa
os órgãos e as peles de nossas mulheres.
e, ainda assim, eles pareciam querer uma nova vida.
Assim como esse que saem das prisões
e agem como profetas infâmes, pintados de negro.
Pior. Pareciam mais que queriam.
Olhavam como se dissessem "Somos donos do nosso nariz".
Pobres olhos fébris.
Pobre, o dono desses olhos fébris.
(João Diniz)
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