Natureza Mórbida


Há uma inquietação de sombra
em meus olhares
Algo da estagnação do vento
que parou de soprar
.
Há também uma flora vibrante
de cor alaranjada em meus sorrisos
Algo do brilho do fogo
que a água teimou em apagar
.
Há uma coisa da raiva
dos famintos com fome
Pedindo o pão de cada dia
que Deus esqueceu no jantar
.
Há uma coisa alegre
da felicidade de quem come
sem ao menos se importarem
com os que não sabem amar
.
(João Diniz)
.
.
.

de Ressaca


Doía a cabeça
a cada passo dado, o barulho dos sapatos
sobre o chão de madeira
machucava meu inconsciente assustado
As pisadas
eram com se fossem bombas sobre Stalingrado
ou ainda, eram com se fossem tiros em Judeus
nos campos de concentração Nazista
Dor na cabeça, sapato ao chão
sangue escorrendo pelas entranhas da lucidez ocular
que perfurada não enxergava nada
nunca via nada
Estilhaços de bombas no piso da sala
do quarto da alma
E, um barulho insuportável de bombinhas de São João
em noite de São João
Explodindo a cabeça.
(João Diniz)
.
.
.

Humanitário


Pense nas crianças
que vagam sozinhas
no escuro do choro aberto

Ferido de qualquer
sentimento estagnado
pela palavra palavrão

Pense nas mães
dessas crianças
que vagam sozinhas

Pense no escuro
no choro, no sentimento
na ferida, no palavrão
(João Diniz)
.
.
.

Quinta a noite


Som, Papo
e comigo
uma forma
de não
sei o quê.
(João Diniz)
.
.
.

Desejar-me mim comigo


Na cama
Na lama
Não fala
Se cala
Me vira
Respira
Engana
Me ama
Me pinta
Não minta
Me borda
Acorda.

(João Diniz)

.
.
.

Foxer Hammer

Entre o portão e a porta
Sozinho nessa parte da casa
dois sentimentos me abraçam
meu medo, minha paixão
A mente, amante suspeita
Abria janelas para o mundo
Algo que escorre nos desertos
e na cicatriz sem guarda-chuva
Me pergunto e me respiro
da vida morta, um minuto
de outro, em outra vida
da rua ladrilhada em feios corpos
que o medo paralisava
em minha mente
e a paixão passeava
em meus sentidos.
(João Diniz)
.
.
.

Terceira idade de um poema


Tateando a pele velha
de um poema antigo,
sinais de velhice.
Burrice, pensar que ser velho
difere de belo.
Rugas nas palavras.
Nos versos, cabelos brancos.
(João Diniz)
.
.
.

Madrugada Arcoverdense


Um olhar lacrimoso insano
acordou a madrugada silenciosa
Andou pelas submersas ruas
que dormiam feito criança

Fantaziou os cachorros, os bêbados
os bordéis ainda acordados
Como uma planta nascendo e morrendo
entre pragas do arco-íris

um Fósforo aceso rente aos olhos
clareando o caminho obscuro
Fê-lo desmaiar sobre uma calçada
da cidade de trafêgo estranho

Claridade. Saudade de matar
qualquer lembrança de casa
Qualquer saudade do pai
ou de algum amigo de infância.

(João Diniz)
.
.
.

Rebelião

Todos serão amaldiçoados
alguns serão jogados em foqueiras
de fogo vermelho e azul .

Outros em um grande caldeirão
fervendo seu caldo de inverno
temperado com cebola e Desamor.

(João Diniz)
.
.
.

Última Ceia


Despido de amor próprio
Ou de algum amor de infãncia
Trancafiado nesse quarto,
O lôdo traz foqueiras apagadas
Com cheiro e sabor de orgias,
Da morte e vida do meu dia nublado.
Despojadoem minha dor
Abro portas de sangue em sangue
Entre ossos e cadaveres
Deixando-me a míngua
Bordando fitas e flores queimadas.
Despido de amor próprio
Ou de algum amor de infância
Vomito minhas lembranças
Sobre o prato de sopa quente
Na mesa do jantar.

(João Diniz)
.
.
.

Fechado para Visitação


Nesse quarto de vaidade
Vivendo uma estagnação ameaçadora
Que me remete ao tempo d'eu menino.

Sozinho, descalço, feliz
Com uma pedra em meu peito
Rejeitando qualquer sentinmento.

Meu coração cercado por estacas
Com um aviso pregado
"Propriedade Privada"
(João Diniz)
.
.
.

Doida

a Maria Bate-Palma.


Meu dia é sombrio, meu sol é de verniz
Água nunca matou minha sede
Nem comida minha fome
Minha roupa não se veste
Minha voz não se escuta
Meu passado não é lembrado
Meu futro nem tá tão próximo
Meu presente, ganhei da chuva
Minha mãe morreu de raiva
E meu pai sumiu do mapa
(João Diniz)
.
.
.

Apresentação

Tudo que tenho a lhe oferecer
São meus versos embriagados de desejo
Sobre um papel manchado
Nada de riqueza ou nobreza
Apenas meu poema, poesia
Que são meu grito de socorro sem voz.
.
Melhor que tudo que há na terra,
Melhor que tudo que há no céu.
.
E te ofereço minhas palavras
Que tropeçando umas nas outras
Exprimem meus anseios
Nada de conto de fadas
Nada de príncipe encantado
Sem castelo, sem promessas.
.
Apenas meus versos e mais nada,
Apenas meus amor e mais nada.
(João Diniz)
.
.
.

Dez e meia

a Jéssica Mendes.
Cartões. cartões de crédito,
de contatos, de lembrança.
fotos, identidade, CPF.
Roupas, tênis, livros,
caneta, lápis, papel, inspiração.
Tudo o que tenho.
Todavia. Entretanto.
Contudo não é só isso
que tenho e posso oferecer.
Carrego uma coisa estranha,
por dentro do meu instinto
que machuca por sentir saudade!
(João Diniz)
.
.
.