Náuseas




Náusea, do amor
de ser, de amar
de não ter o que fazer
de não ter o que falar
Náusea, do odor
de rir e de chorar
de não ter como correr
de não ter como parar

(João Diniz)
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Canto Socorro Poesia



Minha poesia é o meu
canto de socorro
Mas é como se fosse
um canto dentro de uma lata
que retorna
aos meus ouvidos
É um canto calado
sem voz
sem cor
que atravessa
os aparelhos auditivos
como se não cantasse
Mesmo assim
continuo a pedir ajuda
cantando socorro
como as pessoas que
se afogam no mar.

(João Diniz)
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Pé no chão


Era como se o tempo
invadisse cada
espaço do meu jeito
cada espaço
ainda virgem
ainda confuso
e ainda mais
invadido.

(João Diniz)
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vista a visita a vista


Não mais que três.
Dois conhecidos
em meio a um corpo em
mutação acidentada
Entretanto,
mesmo assim
desconhecido
Três corpos, três mentes
descontruidas em contrução
inviolável.

(João Diniz)
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De carnaval


Passeando em
minha rua
vi três elefantes
coloridos, desses
indianos, ofuscantes
de brilho
lantejola
Cimento e lua.
(João Diniz)
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Natureza Mórbida


Há uma inquietação de sombra
em meus olhares
Algo da estagnação do vento
que parou de soprar
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Há também uma flora vibrante
de cor alaranjada em meus sorrisos
Algo do brilho do fogo
que a água teimou em apagar
.
Há uma coisa da raiva
dos famintos com fome
Pedindo o pão de cada dia
que Deus esqueceu no jantar
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Há uma coisa alegre
da felicidade de quem come
sem ao menos se importarem
com os que não sabem amar
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(João Diniz)
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de Ressaca


Doía a cabeça
a cada passo dado, o barulho dos sapatos
sobre o chão de madeira
machucava meu inconsciente assustado
As pisadas
eram com se fossem bombas sobre Stalingrado
ou ainda, eram com se fossem tiros em Judeus
nos campos de concentração Nazista
Dor na cabeça, sapato ao chão
sangue escorrendo pelas entranhas da lucidez ocular
que perfurada não enxergava nada
nunca via nada
Estilhaços de bombas no piso da sala
do quarto da alma
E, um barulho insuportável de bombinhas de São João
em noite de São João
Explodindo a cabeça.
(João Diniz)
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Humanitário


Pense nas crianças
que vagam sozinhas
no escuro do choro aberto

Ferido de qualquer
sentimento estagnado
pela palavra palavrão

Pense nas mães
dessas crianças
que vagam sozinhas

Pense no escuro
no choro, no sentimento
na ferida, no palavrão
(João Diniz)
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Quinta a noite


Som, Papo
e comigo
uma forma
de não
sei o quê.
(João Diniz)
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Desejar-me mim comigo


Na cama
Na lama
Não fala
Se cala
Me vira
Respira
Engana
Me ama
Me pinta
Não minta
Me borda
Acorda.

(João Diniz)

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Foxer Hammer

Entre o portão e a porta
Sozinho nessa parte da casa
dois sentimentos me abraçam
meu medo, minha paixão
A mente, amante suspeita
Abria janelas para o mundo
Algo que escorre nos desertos
e na cicatriz sem guarda-chuva
Me pergunto e me respiro
da vida morta, um minuto
de outro, em outra vida
da rua ladrilhada em feios corpos
que o medo paralisava
em minha mente
e a paixão passeava
em meus sentidos.
(João Diniz)
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Terceira idade de um poema


Tateando a pele velha
de um poema antigo,
sinais de velhice.
Burrice, pensar que ser velho
difere de belo.
Rugas nas palavras.
Nos versos, cabelos brancos.
(João Diniz)
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Madrugada Arcoverdense


Um olhar lacrimoso insano
acordou a madrugada silenciosa
Andou pelas submersas ruas
que dormiam feito criança

Fantaziou os cachorros, os bêbados
os bordéis ainda acordados
Como uma planta nascendo e morrendo
entre pragas do arco-íris

um Fósforo aceso rente aos olhos
clareando o caminho obscuro
Fê-lo desmaiar sobre uma calçada
da cidade de trafêgo estranho

Claridade. Saudade de matar
qualquer lembrança de casa
Qualquer saudade do pai
ou de algum amigo de infância.

(João Diniz)
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Rebelião

Todos serão amaldiçoados
alguns serão jogados em foqueiras
de fogo vermelho e azul .

Outros em um grande caldeirão
fervendo seu caldo de inverno
temperado com cebola e Desamor.

(João Diniz)
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Última Ceia


Despido de amor próprio
Ou de algum amor de infãncia
Trancafiado nesse quarto,
O lôdo traz foqueiras apagadas
Com cheiro e sabor de orgias,
Da morte e vida do meu dia nublado.
Despojadoem minha dor
Abro portas de sangue em sangue
Entre ossos e cadaveres
Deixando-me a míngua
Bordando fitas e flores queimadas.
Despido de amor próprio
Ou de algum amor de infância
Vomito minhas lembranças
Sobre o prato de sopa quente
Na mesa do jantar.

(João Diniz)
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Fechado para Visitação


Nesse quarto de vaidade
Vivendo uma estagnação ameaçadora
Que me remete ao tempo d'eu menino.

Sozinho, descalço, feliz
Com uma pedra em meu peito
Rejeitando qualquer sentinmento.

Meu coração cercado por estacas
Com um aviso pregado
"Propriedade Privada"
(João Diniz)
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Doida

a Maria Bate-Palma.


Meu dia é sombrio, meu sol é de verniz
Água nunca matou minha sede
Nem comida minha fome
Minha roupa não se veste
Minha voz não se escuta
Meu passado não é lembrado
Meu futro nem tá tão próximo
Meu presente, ganhei da chuva
Minha mãe morreu de raiva
E meu pai sumiu do mapa
(João Diniz)
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Apresentação

Tudo que tenho a lhe oferecer
São meus versos embriagados de desejo
Sobre um papel manchado
Nada de riqueza ou nobreza
Apenas meu poema, poesia
Que são meu grito de socorro sem voz.
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Melhor que tudo que há na terra,
Melhor que tudo que há no céu.
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E te ofereço minhas palavras
Que tropeçando umas nas outras
Exprimem meus anseios
Nada de conto de fadas
Nada de príncipe encantado
Sem castelo, sem promessas.
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Apenas meus versos e mais nada,
Apenas meus amor e mais nada.
(João Diniz)
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Dez e meia

a Jéssica Mendes.
Cartões. cartões de crédito,
de contatos, de lembrança.
fotos, identidade, CPF.
Roupas, tênis, livros,
caneta, lápis, papel, inspiração.
Tudo o que tenho.
Todavia. Entretanto.
Contudo não é só isso
que tenho e posso oferecer.
Carrego uma coisa estranha,
por dentro do meu instinto
que machuca por sentir saudade!
(João Diniz)
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Soneto de Carnaval Sem Rima


Tudo parecia um tédio,
máscara, fantasia, sorrisos secos
como uma ressaca de carnaval
mas entre a multidão inquieta.

entre rostos e corpos transfigurados
na minha cabeça confusa
percebi um olhar ofuscante
de confete e serpentina

que vagando entre as pessoas
acertou meu pobre olhar
corrôeu o meu instinto

me afogou em seu cabelo
me asfixiou em seu perfume
e me matou com seu desejo.
(João Diniz)
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Sobre efeito ou A revolta do que vê

De frente para o lago
os olhos pareciam mais vermelhos.
Mais vermelhos, que uma chuva de larva
esculpindo seus anzóis petrificados.
Pareciam mais tontos, que uma barata tonta
após aspirar o gás verde musgo exalado pelos inseticidas
Pareciam mais cruéis que tudo
Até mesmo que a Santa Inquisição
com suas fogueiras de fogo azulado,
prontas para apagar do mapa
os órgãos e as peles de nossas mulheres.
e, ainda assim, eles pareciam querer uma nova vida.
Assim como esse que saem das prisões
e agem como profetas infâmes, pintados de negro.
Pior. Pareciam mais que queriam.
Olhavam como se dissessem "Somos donos do nosso nariz".
Pobres olhos fébris.
Pobre, o dono desses olhos fébris.
(João Diniz)
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Aula de Gramática


- Acertei de novo!
- Errei outra vez!

Onde está o erro?
(João Diniz)
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Um poema a mais, um poema a menos, tanto faz!


Um pedaço de papel,
perdido no escuro.
Com fome, frio, sede, sono,
sozinho, triste, abandonado.
Sem amor, sem carinho, sem nada.
Sujo por um louco e por
uma pobre e febril caneta preta.
O vento o leva para cima dos edficios,
para longe, distante.
Mais triste, mais fome, sede, sono.
Mais sozinho ainda.
Como se não bastasse,
o tempo o leva para o esquecimento.

(João Diniz)
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Fotografias



Rostos e corpos
mofados,
pelo sabor do tempo.
(João Diniz)
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Bolsa de Amores


Em alta, em baixa
O fogo derrete, o gelo incendêia
O coração aflito palpita
A mente tranquila estremece
Embaralhando todos os sentidos,
como se fosse um jogo de cartas
Onde apostamos tudo que temos.
Alguns voltam pra casa
Com os bolsos cheios, pura sorte!
Outros com as mãos abanando
Mais um dia de azar.
Uma bolsa de sentimentos
controlando a econômia do amor.
(João Diniz)
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Pedido de Casamento

Mesa Posta, vinho, velas,
jantar a dois.
Olhar embriagado pelo álcool
dos teus olhos.
Suspiros despercebidos.
Voz trêmula.
E um grito ao longe, me
empurrando,
dizendo que é a hora.
(João Diniz)
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Nas Águas o Fim


Amor? Já não existe mais
Abro a porta, sala vazia
Sofrimento, tristeza, agonia
Grito calado a beira de um cais

Despercebido o sol sai, já é dia?
Desesperado sem você, olho pra trás
Finjo que não. Porém eu sabia
Havia trocado-me por outro rapaz

Pro meu coração é muito tormento
O mar me chama, me olha, namora
Paro e penso por um vão momento
Não sei se é o dia, não sei se é a hora

Mas com você já perdi tanto tempo
Que não sobrou tempo pra perder agora
Olho pro mar e não me aguento
Deixo que as ondas me levem embora.
(João Diniz)
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SubHumano

Queria que me tratassem como um vira-lata sarnento,
Como um bêbado que não faz nenhum sentido existir.
Queria que me esquecem por um mero instante de ácido, que corrói as mãos dos velhos livros de romance.
Queria poder andar, falar, viver, sem que ninguém entrasse na minha festa sem ser convidado.
Queria poder saboreiar meu whisky russo, sem que ninguém pronunciasse uma só palavra.
Fumar meu cigarro inglês ou até mesmo um cigarro americano, sem que ninguém me observasse.
Queria mas não posso, sou feito de carne e osso.
(João Diniz)
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100


Sem falar
Sem perder
Sem sofrer
Sem amar
(João Diniz)
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Os
Ventos de Vitória
Virtudes de Vontade
Vertigens de Varsóvia
Velhices de Vaidade
Viagens de Valéria
Vividas de Verdade
(João Diniz)
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O cego e a pedra

Fui a pedra
No caminho do Cego
Sou o cego
Com a pedra no caminho.
(João Diniz)
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Frevo Folia

Em passos leves as pernas flutuam
Com um significado maior que a vontade
Um ritmo que não tem outro igual
Que saí na avenida, que deixa saudade

Vindo da Terra dos Altos Coqueiros
Salve o frevo que ferve nas veias
Salve o frevo que é de verdade.
(João Diniz)
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Faixa de Gaza

Ouço o barulho de tiros,
Bombas,
Explosões. O que será?
Nada.
Apenas a guerra lá fora!
(João Diniz)
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Teu Sono

Quando você dorme, tudo dorme
Os talheres na gaveta do armário
Os porta-retratos na estante da sala
As roupas penduradas no varal
O giz riscado no quadro-negro

Os ventos dormem
As águas dormem

Como crianças inocentes
Como as pernas dormentes
Tudo dorme
E eu acordo para admirar o teu sono
A tua Beleza, o teu cansaço.
(João Diniz)
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Descanso ímpar

Terra
Terreno
Terreiro
Terraço
Num domingo à tarde
(João Diniz)
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Beco'bar

No beco da esquina
Negros, brancos, pardos
Se embriagam com Cachaça
A cada gole, a cada copo, a cada garrafa
A vida parece ter sentido
Mesmo sem sentir a lucidez
(João Diniz)
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Para Lunáticos

O tempo pára
A vida real pára
Tudo pára
Transporto-me para um outro mundo
Para putra vida
Para a Lua
(João Diniz)
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Soneto de Mistério

Doce mistério feroz.
Que prende, que paralisa.
Fazendo - me cruzar a divisa,
Do inconsciente atroz.

Mistério que faz recordar,
Faz esperar, faz veloz.
Amarrado, desatando os nós,
Preso sem conseguir soltar.

Desejo pregado nos dedos,
Vivo pelo teu encanto.
Misteriosa musa dos medos,

Vejo o som do teu canto.
Sinto o cheiro da voz dos segredos,
Te espero, te desejo tanto.
(João Diniz)
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Vontade Insana

Queria ser um palhaço
Um palhaço sem graça
Nesse mundo em desgraça
Ser apenas um palhaço
Ser um homem descalço
Andando sozinho na praça.
(João Diniz)
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Canto, sendo perder

O mar e as montanhas se encontram
No filamento do céu de seda
Esqueço, percebo tal perda
Dos pássaros que voam, que cantam.

Encanto do canto encantador
Canto encantador do encanto
Tristeza que canta o canto
Canto que encanta essa dor.

Dor que lateja, sem ser
Peito que sente, que senta

Fere, machuca, aguenta
Sentimento perdoa, perder.
(João Diniz)
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A Cor do Vento

Viagei no seio das flores
Brinquei com colibris
Andei por esses brasis
Deixei pra trás muitos amores

Só de passagem, passei
Por onde o vento faz
A curva que não se desfaz
Eu que nunca imaginei

Descobri a cor do vento
Inexplicável esse momento
Era da cor do teu olhar
Só de ter no pensamento
Esse brilho é um alento
Brilha mais que o luar
(João Diniz)
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Soneto do Desejo


Tristeza tomou conta de mim
Ocupou cada espaço da minha alegria
Te procuro nesta cidade vazia
Procura que nunca chega ao fim.
Mesmo que chegasse tardia
Eu não viveria assim
A alegria que se foi de mim
Nesse mesmo instante iria.

Voltar ao meu peito risonho
Seria dia de felicidade
Apagaria desse rosto tristonho

Essa cuja infelicidade
Não, não é só mais um sonho
E sim, a mais pura verdade.
(João Diniz)
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Te esperando, descanso




Descanso à sombra

De uma manguerira

De fruto maduro

AMARELO,

O mesmo AMARELO

Do meu amor maduro

Que apudrece na

Espera da tua voz.

(João Diniz)

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Outono estação


O buraco no outono
Onde as Folhas caem no chão
Secas, parecem estar com sono
Dormem nessa estação.
(João Diniz)
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Bem me quis sem querer


Deitado no lago de lágrimas
Escorridas junto ao sono do mar,
Loucas, feridas, sem lar
Rio passando sem dadivas.

Molha o meu rosto magoado
Lava essa face qualquer,
Fala a verdade a quem quiser
Confissão de um homem calado.
Sozinho no escuro assustado
Bem-me-quer, talvez mal-me-quer.
(João Diniz)
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Guerra de sonhos


Meus sonhos caídos
Procuram chão
De asas cortadas
Tentam voar
Pra se livrarem
Da chuva escaldante
Do medo
Cantam junto a
Melodia do silêncio
Que se esconde
Em meio as águas
(João Diniz)
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Tentações


Minhas lágrimas tocam o chão
Uma a uma, duas a duas.
Caídas tentam tocar as nuvens
Tocadas tentam gritar.
(João Diniz)
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Guerra entra sonhos


Na melodia das palavras
Azuis do céu cor de anil
Nostalgia acelera o compasso
Da melodia inquieta.
Primavera prima das flores
De solidão suposta
Quebrando regras de sentimentos
Movendo abgústias distantes.
Diálogo insano na mente amarga
De propósitos silênciosos
Invadem canções de setembro junto ao medo
Das flores que desabroxam sozinhas.
Perco o sono no meio da multidão
Que grita o nome do adeus.
(João Diniz)
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Somos um só


A noite iluminava nós dois
Apaixonados pelo mesmo desejo
Ser um do outro, sermos um só
Somos um só, não no corpo
Mas na melodia dos amantes perdidos.
(João Diniz)
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Melodias finais



Assim como na melodia das letras
Caindo em lágrimas no seio das folhas
São as costas nuas das negras
Vazios perfeitos decipam as bolhas

Bolhas nas folhas do verde primário
Decipam-se no seio de letras melódicas
Negras, das nuas costas andando no páreo
Melodia perfeita de lágrimas melancólicas

Melancolia dos sonhos distantes
Que a primavera irá chegar ao teu seio
Canto dos tristes amantes
Cantando no fim, no começo, no meio.

No fim da avenida sozinha
No começo sozinho da vida
No meio sozinho caminha
No meio começa o fim da saída.
(João Diniz)
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